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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil |
Nos últimos anos, o mercado de trabalho por meio de aplicativos consolidou-se como uma das principais alternativas de renda para milhões de brasileiros. Uma nova pesquisa divulgada pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), em parceria com a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), revela dados atualizados e surpreendentes sobre a dimensão dessa força de trabalho que move o Brasil diariamente, literalmente.
A pesquisa, apresentada em Brasília no dia 25 de junho, indica que o número de motoristas por aplicativo cresceu 35% entre 2022 e 2024. Já os entregadores, segmento diretamente ligado a plataformas de delivery de comida, mercado e encomendas, registraram crescimento de 18% no mesmo período. Segundo o levantamento, 1,7 milhão de motoristas atuam em todo o país, contra cerca de 455 mil entregadores ativos.
Um retrato da realidade
Esses profissionais têm, em média, uma jornada de trabalho de 43 horas semanais, com 6 dias trabalhados por semana. Os ganhos também foram alvo do levantamento: motoristas recebem entre R$ 19 e R$ 27 por hora líquida, enquanto os entregadores faturam de R$ 17 a R$ 22 por hora, já descontados custos com combustível, manutenção e taxas de plataforma.
Esses valores mostram uma renda atrativa para muitos brasileiros, especialmente em um cenário de informalidade crescente e dificuldade de recolocação no mercado formal. Vale lembrar que o setor de transportes e entregas está entre os que mais crescem em tempos de digitalização do consumo, especialmente nas grandes cidades.
Trabalho por escolha, não por falta de opção
Um dado que contraria certos estigmas sociais sobre a precariedade do setor chama a atenção: 75% dos entregadores afirmaram não querer sair da profissão e continuar trabalhando com aplicativos. Entre os motoristas, esse número é ainda maior: mais de 80% dizem não ter intenção de abandonar a atividade.
A explicação? Segundo os entrevistados, fatores como liberdade de horário, autonomia de decisão sobre quando e onde trabalhar, e perspectiva de renda acima da média do mercado formal são determinantes. Além disso, muitos relataram experiências negativas com vínculos empregatícios anteriores, como atrasos salariais, exploração e jornadas exaustivas sem controle pessoal.
O desafio da regulamentação
Apesar dos números positivos, o setor vive um momento de tensão. O avanço do debate sobre a regulamentação dos trabalhadores de aplicativos reacende discussões sobre direitos trabalhistas, vínculo empregatício e impacto nos custos operacionais das plataformas.
Segundo simulações do próprio estudo do Cebrap, uma regulamentação rígida, que reconheça vínculo formal entre entregadores e plataformas, poderia elevar os custos das empresas em até 26%. O reflexo seria sentido em todo o ecossistema: redução de até 82% no número de entregadores, aumento nas tarifas de entrega para o consumidor e, possivelmente, restrição do acesso à atividade para novos trabalhadores.
As empresas defendem um modelo de proteção social flexível, com contribuições para previdência, seguro contra acidentes e acesso a benefícios básicos — mas sem vínculo formal. Entidades sindicais, por outro lado, pressionam por garantias trabalhistas completas.
Impactos no setor de entregas
Para quem atua como entregador, a insegurança jurídica pode afetar diretamente as estratégias de carreira. Alguns profissionais, que antes viam o setor como uma fonte de renda estável, agora demonstram receio com possíveis mudanças que interfiram em sua autonomia ou reduzam a oferta de trabalho.
Ao mesmo tempo, surgem iniciativas positivas dentro da própria categoria: grupos de apoio, clubes de vantagens, cursos de capacitação e comunidades online têm ajudado entregadores a se profissionalizar, otimizar seus ganhos e entender melhor o mercado.
Caminhos para o futuro
O crescimento do setor por si só já é um indicativo de que a sociedade brasileira encontrou, nos aplicativos, uma nova forma de geração de renda. No entanto, a falta de uma regulamentação clara cria uma zona cinzenta que pode colocar em risco tanto os trabalhadores quanto as plataformas.
É preciso encontrar um equilíbrio entre autonomia e proteção. Um modelo de regulação sob medida, que preserve a flexibilidade — diferencial central dessa forma de trabalho — mas ofereça uma rede mínima de segurança social, parece ser o caminho mais adequado para evitar o colapso do sistema e manter a confiança dos trabalhadores.
Enquanto isso, profissionais como motoristas e entregadores continuam a impulsionar o país com seu trabalho diário, muitas vezes invisível, mas absolutamente essencial para o funcionamento da economia contemporânea. E cada vez mais, eles exigem reconhecimento — não apenas em números, mas também em voz ativa nas decisões que moldam o futuro da mobilidade e das entregas no Brasil.
Fonte: Cebrap / Amobitec – Apresentação de Dados em Brasília, Junho de 2025
Escrito por: Redação blog Jornada do Entregador – Mobilidade, logística e trabalho por apps
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